segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Sporting de Lourenço Marques

Morreu o Exímio.
Seria hoje o "mais velho" no bairro da Mafalala, a ver os miúdos a jogar com bola de trapos, ou com uma bola trazida de uma doação qualquer de um país rico.
Nunca teria ido à Metrópole, à magnífica cervejaria Boa Esperança (antigo Edmundo), comer os seus famosos tremoços. Regularmente vamos à homenagem, comer o estrondoso prego "sonhé". Recomendo, sempre é uma forma mais interessante de homenagem do que as hipérboles exageradíssimas que se ouviram hoje durante horas a fio.
Nunca teria ido a Inglaterra, cumprir metade do desígnio do império, no ano em que nasci.
Nunca o segundo clube do meu bairro (sendo o primeiro o glorioso Fófó) teria passado da merecida cepa torta. Antes da chegada do Exímio o Sporting tinha, obviamente, mais títulos que a chafarica.

Acho que nunca o vi ao vivo a jogar, apesar de tanta repetição sentir que assisti ao jogo da Coreia. Durante décadas nunca mais houve Portugal no Mundial.

Podia obviamente ter feito muito mais. Podia ter-nos levado ao Mundial de 62, de 70. Podia ter ido para Itália, podia ter saído da Luz, podia ter dito não ao disparate da mãe que assinou pelos lampiões.

Bastaria ter percebido que sem a visão e os métodos de treino da filial de Lourenço Marques do melhor clube do mundo, continuaria aos chutos a uma bola de trapos.

Lembro-me da estreia pelo Beira-Mar, foi contra o Benfica ou o Porto, e de achar que agora é que eles iam levar. Não levaram, que o velhote com uns 40 anos e sem joelho já tinha acabado, mas ainda não o tinham avisado. Precisava de jogar, que mesmo depois de tudo o que deu ao Benfica não tinha reforma que lhe chegasse.

Era bom a jogar à bola, foi maior que os outros, parecia boa gente.
Foi o único e último bom jogador do Benfica.
Que só lá ficou porque o ditador decidiu que não sairia.

É pena ter partido, enquanto estava vivo e ia ao estádio ver os jogos os outros lampionitos sentiam-se mais pequeninos.

RIP Exímio.

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