quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Direito do coração

Na disciplina de Português, andei a estudar Mensagem, a obra de Fernando Pessoa que vem pedir um novo apogeu do Império Português, inspirado pelas glórias do passado (conceito familiar a alguém?). Há algumas semana, foi-me pedido que criasse um discurso que empregasse alguma Parte do poema Mostrengo, sobre o tema que quiséssemos. Obviamente que tinha que escolher o Sporting. Logo depois, quando pensava publicar esta pérola, ganhámos ao Braga e a maré mudou (ou não). Como vejo que mais nada motiva os rapazes, pode ser que isto ajude.

Irmãos Sportinguistas,

Não é vergonha nem segredo nenhum o momento de crise que o nosso clube atravessa. Não pode ser vergonha também o facto de a direcção ser incompetente e tomar sucessivas decisões que nos levam cada vez mais à falência técnica, mas isto não nos pode afastar daquilo que nos une a todos: o amor à camisola verde e branca com o leão ao peito. Não nos podemos esquecer de que, apesar dos problemas, o valor deste emblema é eterno. 
Lembremo-nos das glórias do passado! Temos sempre connosco o exemplo de homens que conquistaram grandes feitos pelo amor à camisola que hoje nem nós nem os nossos jogadores têm. É impossível esquecer os Cinco Violinos, o Cantinho do Morais que nos ganhou a Taça das Taças ou Vítor Damas, um dos melhores guarda-redes portugueses de sempre. Levemos connosco o seu exemplo para dar mais pelo nosso clube.
"O Mostrengo que está no fim do Mar/ Na noite de Breu ergueu-se a voar", mas nós não temos nada a temer, porque conhecemos o Mar como ninguém e vamos voltar a conquistá-lo! 
Vamos obrigar os nossos atletas a dizer que "Mais do que a Europa que me a Alma teme/ Manda-me a vontade de atar as chuteiras/ Dos adeptos do Sporting Clube de Portugal!"


O Mostrengo - Fernando Pessoa

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse: “Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?”
E o homem do leme disse, tremendo:
“El-Rei D. João Segundo!”

“De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?”
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
Três vezes rodou imundo e grosso,
“Quem vem poder o que eu só posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?”
E o homem do leme tremeu e disse:
“El-Rei D. João Segundo!”

Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer três vezes:
“Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!”

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