quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Candidatos ao título?

Deixo aqui um texto escrito por Lion73 e postado no ForumSCP.

« 17 pontos em 21 possíveis, melhor ataque, melhor defesa, o melhor futebol da liga, não sendo brilhante, estádios muito bem compostos, seja em Alvalade ou fora e a possibilidade de, na próxima jornada, conquistar a liderança da liga, isto quando está cumprido cerca de um quarto da competição.


Penso que estão superadas as melhores expectativas dos Sportinguistas e é visível o efeito surpresa que este Sporting renovado tem tido no mundo do futebol, que jogo após jogo, vê os opinion makers da praça a engolir em seco e a começar a incluir o Sporting nas contas da liga.

A discussão, agora, passa pelas reais capacidades desta equipa na luta pelo título, pela análise do discurso do presidente e do treinador, elogiando o realismo, mas querendo forçar um Sporting de peito feito e a sua assumpção como real candidato. Ora isto não é inocente. 

Duvido que a generalidade dos analistas e adeptos veja esta equipa do Sporting como um competidor à altura de um FC Porto hegemónico e da armada sérvia do Benfica. O Sporting interrompeu uma espiral competitiva negativa de longa data, vem de uma época em que o cenário de descida de divisão não terá sido totalmente irreal e com uma imagem deplorável de clube sem rumo, falido e até, ao contrário dos valores transmitidos durante uma história centenária, enlameado por actos ilícitos que envergonharam os Sportinguistas e não houve milagres que façam pensar que o clube entrou no paraíso quando há pouco tempo estava no inferno. Há quem esteja desejoso de ver no Sporting um discurso que mostre expectativas acima das capacidades que consideram que este clube tem. Porque assim o tombo seria maior, a derrota seria mais dolorosa e haveria matéria para se espetar a faca na ferida de um outrora moribundo convencido que a recuperação é total. 

Não comungo da ideia que, o Sporting, pela sua história, é sempre um candidato ao título. Talvez devesse ser assim, mas não tem sido e não é. Nos últimos 30 anos, conto pelos dedos de uma mão ou pouco mais,  as épocas em que havia, à partida, condições reais para se chegar ao primeiro lugar. Vi, entre 1985 e 1994, nada mais que 3ºs e 4ºs lugares, com um ou outro brilharete até ao Natal e apenas uma Supertaça conquistada. 

A conquista dos títulos de 2000 e 2002, em vez de servirem de base para a construção de um Sporting mais forte e mais sustentável, serviram apenas para relaxamento e de alívio pelo fim dos períodos de seca, sem grandes preocupações estratégicas para com o futuro do clube. Foi um sucesso efémero, fruto de uma conjugação feliz de factores, muito mais que por um trabalho sério e sustentado.

Quase até ao fim da década de 2000, a consciência do dever cumprido por 2 míseros títulos de campeão e os obstáculos vividos por um projecto imobiliário não rentabilizável e que asfixiou o clube, levou a um cenário de serviços mínimos, assente nas valências da formação do clube, no trabalho sério de um treinador que deu cara pelo seu trabalho e pelo trabalho dos outros e criou valores pouco naturais -  num clube com uma massa adepta fiel, presente e unida – como comodismo e laxismo e mais tarde, porque inevitavelmente os Sportinguistas não estavam preparados para uma recriação do seu clube para algo diferente dos valores dos fundadores e insultante para o seu passado glorioso, a clivagens profundas entre os próprios adeptos e a um cenário de guerra civil, algo impensável há muitos anos atrás.

Num momento de mudança e de crença no futuro, a nossa história não nos obriga a outra coisa que pensar em grande, mas fazendo-o com o realismo que a conjuntura actual exige e com a consciência dos erros do passado.

O Sporting não é candidato a outra coisa que mudar o rumo que quase o fez cair no abismo fruto de uma gestão irresponsável que originou o descalabro financeiro e a destruição, quase conseguida, daquilo que este clube tem de melhor, que é o amor e o orgulho dos seus adeptos.

O Sporting não é candidato a outra coisa que não seja vencer o próximo jogo.

O Sporting não é candidato a outra coisa que não seja ter as camisolas mais suadas no fim de cada desafio, chegando ao fim de cada 90 minutos com a sensação de dever cumprido, independentemente do resultado.

O Sporting não é candidato a outra coisa que ter um grupo responsável, solidário e respeitador.

O Sporting não tem as armas dos rivais. O Sporting não tem as mesmas soluções , nem em qualidade, nem em quantidade. O Sporting não tem o poderio financeiro do Benfica e do Porto. Não há que ter vergonha de admitir a realidade. A aceitação da mesma é uma responsabilidade de todos nós. Isto se queremos dar tempo a um trabalho de médio e longo prazo.

Mas exactamente pela realidade ser a que é, que todos nós, adeptos, jogadores, treinadores, dirigentes, temos que ter a capacidade de auto superação, no apoio, no trabalho e na responsabilidade na construção de um Sporting melhor que nunca.

Candidatos ao título? Irrelevante. O futuro campeão não precisa de preencher um formulário de candidatura ao primeiro lugar e assiná-lo. Ganhará quem fizer mais pontos. »


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