quarta-feira, 25 de setembro de 2013

6 meses de Bruno de Carvalho

A assinalar os 6 meses de mandato de Bruno de Carvalho, o Jornal de Negócios publica hoje uma grande entrevista com o nosso Presidente:

  • Quando acabar o mandato,o que será para si a medida de sucesso?

Sinceramente, quando acabar o meu mandato, um dos factores de relevância será ser campeão nacional de futebol. De resto, graças a Deus, temos feito um bom trabalho, agora é só mantê-lo. Temos um clube equilibrado e temos uma equipa de trabalho boa Não quero como sportinguista estar aqui quatro anos em que não possamos todos sair daqui com um título. Por muita moderação, responsabilidade e bom senso, quatro anos é muito tempo, há muito caminho para trilhar, mas temos de conseguir atingir esse objectivo e dizermos que cumprimos. Sabemos todos que temos aqui uma missão tremenda O Sporting Clube de Portugal tem de ocupar o seu lugar. E eu próprio, como presidente do Sporting, não tenho paciência para esperar anos e anos para aquilo que tem de ser nosso objectivo, que é voltarmos a comemorar o título. Todos nós merecemos que isso aconteça durante este primeiro mandato.

  • As relações hostis, nomeadamente com o FC Porto, são para manter?

O Sporting é um clube com uma dimensão tremenda. E aquilo que está nos nossos horizontes é colocar outra vez o Sporting no lugar que merece, que é o topo do futebol nacional. Se nós soubermos todos viver com o facto de o Sporting conseguir novamente conquistar um lugar no topo do futebol nacional, vivemos todos muito bem. Se continuarmos com pessoas a achar que o Sporting está a afastar-se do topo, estamos mal. Tudo depende da capacidade que as pessoas têm de encarar a nova realidade do Sporting Clube de Portugal, e a nova realidade é que há clubes que estão a ocupar o espaço que nós queremos. Quando isto faz confusão a clubes, é natural que o relacionamento estremeça um bocado. O Sporting, com um episódio que não vou estar a recalcar, não teve outro remédio.

  • O caso da ofensa de Adelino Caldeira, do Porto…

O Sporting não precisa de criar relações hostis com ninguém para chegar aos seus objectivos, mas também não fica calado quando pretendem criar situações hostis.

  • O interesse comum dos clubes na rentabilização do futebol é possível?

No momento em que algumas das ligas perceberam que conseguiam conciliar as rivalidades com o quererem transformar-se em ligas produtivas, então conseguiram Veja a liga espanhola. Quando deixarmos de ser tacanhos, poderemos ter equipas extremamente competitivas, com índices de rentabilidade no máximo, e uma liga respeitada a nível mundial.

  • Não faz sentido uma aliança com um dube rival contra outro clube rival? Por exemplo, uma aliança com o Benfica contra o Porto?

Eu não conheço um primeiro lugar mútuo. No dia em que houver o primeiro lugar mútuo, aí se calhar isso poderá fazer algum sentido para algumas pessoas… Enquanto não há, não pode haver esse tipo de alianças. Quem quer estar em primeiro não se alia a ninguém, tem é de deixar os outros para trás. O que há são coisas distintas. Em prol da rivalidade e dos objectivos particulares, há um pacto de não agressão, para nós nos conseguirmos entender. Não acho que seja impossível obter os dois resultados, que é mantermos a nossa identidade, a nossa autonomia, e atingir um objectivo particular. Mas temos inteligência suficiente: estamos inseridos num mercado. E o mercado será tão bom ou tão mau consoante nós saibamos, enquanto um todo, dar os passos necessários.

  • Na prática isso é possível com o presidente do Porto, do Benfica, da Liga?

Posso achar que, relativamente a algumas pessoas, o objectivo é um bocado mais difícil. Mas como sou católico, e os católicos acreditam em milagres, posso acreditar que as pessoas mudam.

“Justiça seja feita à Holdimo, foram mais inteligentes que muitas pessoas”
Aumento de capital está atrasado, mas líder do Sporting veria com bons olhos o reforço do apoio dos angolanos

  • Para que é que o BES e BCP concederam empréstimos de 68 milhões na reestruturação?

Foi necessário repensar todos os empréstimos que já estavam contratualizados, perante a nova realidade do plano que fizemos. Por isso surgiram as necessidades de investimento, de 20 mais 18 [milhões de euros], e as necessidades dos novos empréstimos, com outras características, para podermos dizer: “É difícil, mas este plano conseguimos cumprir”.

  • No final desta reestruturação, com quanta divida total fica?

Em termos de grupo serão 206 milhões [contra os 354 milhões anteriores].

  • E divida à banca?

A volta de 160 milhões no total do grupo (na SAD são 90).

  • Isto configurou alguma espécie de perdão de divida?

Não, não configurou absolutamente nenhum perdão de dívida O que aconteceu foi que surgiram novos investidores e um mecanismo de novas VMOC (Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis). Isto não é perdão de dívida Aquilo que fizemos foi utilizar ferramentas para conseguir uma reestruturação equilibrada

  • A SAD ficou com custos financeiros mais baixos?

Metade dos actuais.

  • O administrador Paulo Antunes, da confiança da Holdimo, é uma mais- valia para o Sporting?

Não tenho dúvida A Holdimo é uma empresa vamos desmistificar isto. E como empresa procura maximizar os seus investimentos. E agora vê-se que foi uma entidade muito inteligente pelo que fez, e é por isso que às vezes se distinguem as organizações que tiveram a capacidade de ver algo que nem toda agente viu. Se durante uns tempos houve muita gente que duvidou do projecto e da nossa capacidade, neste momento quase ninguém duvida Portanto, seja feita justiça à Holdimo.

  • Mas também tiveram um incentivo, tinham um crédito de 20 milhões…

Não, de todo. Como empresa, foram muito mais inteligentes que muitas pessoas, porque acreditaram que ao transformar um crédito de 20 milhões [em capital], ao passá-lo para serem accionistas da SAD, no futuro próximo podiam ter umarentabilidade muito maior. A verdade é que o Sporting neste momento, a nívelfinanceiro, começa a atingir níveis de equilíbrio muito interessantes. Fizemos umamu- dança e muita gente duvidava que se pudesse fazer tão depressa que foi uma mudança de mentalidade. A primeira visão que tiveram foi que nós poderíamos dar a voltaà situação e começar a ser novamente o Sporting que muitagente duvidava que ainda existisse. E a parceria já está a dar um passo em frente, porque o Sporting tinha de arranjar uma solução definitiva para aquilo que é aequipa B e a Holdimo vai ser o parceiro que vai investir para termos condições aprovadas pela Liga para termos os jogos da [equipa] B na Academia

  • Está a falar na bancada do “mini-estádio”. Qual será o investimento?

Vai rondar o meio milhão.

  • E quais as contrapartidas?

O nome da própria bancada e parte da receita de publicidade nesse “mini-estádio”.

  • E a Holdimo também está disponível para subscrever os 18 milhões que faltam no aumento de capital?

Não tem nada que ver uma coisa com a outra. A Holdimo está disponível – teve uma excelente visão empresarial, também porque o seu líder, Alvaro Sobrinho, também vibra muito com o Sporting, é um sportinguista fanático -, para ser nosso parceiro num projecto que é colocar o Sporting no lugar de topo do futebol nacional.

  • Mas como vai conseguir fazer o aumento de capital de 18 milhões, que está atrasado?

Está atrasado, de facto, mas não nos tem prejudicado em nada. O que sempre disse é que tinha de ser aprovada uma reestruturação, que implica uma fusão da Sporting Património e Marketing na SAD e implica depois uma série de aumentos de capital: da Holdimo, passar de crédito para capital [20 milhões de euros], e de [aumento de capital de] 18 milhões. O Sporting está a tratar de assuntos que envolvem as Finanças, temos alguns pedidos relativamente a IMT e imposto de selo, por causa destes processos de fusão. Quando tivermos a resposta daremos andamento ao processo de fusão e aumento de capital. E eu apresentarei os investidores dos 18 milhões.

  • Mas não será surpresa se a Holdimo ficar com a maioria da parte do capital da SAD que não é do Sporting?

Sinceramente, não estou nada preocupado, desde que o Sporting mantenha a maioria do capital. E digo-lhe: eu não veria [esse reforço angolano] nada com maus olhos.

  • Essas mais-valias que a Holdimo espera da SAD, passam por dividendos?

Claro que sim, isso está no nosso projecto: nos primeiros três anos, o Sporting deixar de ter saldos negativos. Até fui mais longe, não só na SAD mas no próprio clube. E neste momento, estamos a trabalhar para que isso aconteça já na primeira época Nem tudo está nas nossas mãos…

  • Não?

Sobretudo, a minha grande dúvida tem que ver com alguns jogadores que o Sporting quer colocar no mercado, com um ajuste do índice salarial. Mas se falharmos este ano – e espero que não -, esse objectivo que toda a gente dizia que em três épocas era impossível, só o falhamos por este facto. Porque de resto, com todas as medidas que implementámos, conseguiríamos já neste primeiro ano. Envolvam- se os sportinguistas com aquilo que podem, com “gameboxes”, ao virem aos jogos, ao tornarem-se sócios, e nós conseguiremos isso no primeiro ano. O objectivo é, o mais depressa possível, e com esse equilíbrio atingido, dar dividendos.

“O Sporting pagava comissões de tudo!”
Clube gastou 45 milhões em compras em dois anos, com comissões de 15 milhões. O normal teria sido um terço

  • Quanto gastou o Sporting em aquisições e comissões nos últimos anos?

Eu tentei alertar durante muito tempo: logo no primeiro ano da antiga direcção, em que o Sporting faz um investimento de cerca de 24 milhões, como é que havia 11 milhões em comissões?! Perguntei isto várias vezes e nunca foi interessante para ninguém esta temática Era um assunto que não motivava as pessoas a pensar…

  • Está a ironizar.

Chegámos à conclusão que temos cerca de 40 a 45 milhões em compras nos últimos dois anos, com comissões que rondarão os 15 milhões, não incluídas no custo do jogador. Provavelmente isto acontece em todos os clubes e se calhar noutras dimensões. Era uma coisa que gostava de ver no futebol português, essa transparência e rigor a ser exigida aos restantes clubes. Era interessante os associados e accionistas perceberem o que se vai passando no seu próprio clube.

  • Mas consegue perceber o que se passa nos outros dubes?

Não sei o que é a realidade dos outros clubes, mas provavelmente era tudo igual. O Sporting pagava comissões de tudo! Se fazia compras ainda pagava adicionalmente uma comissão, se fazia vendas – e aí faz todo o sentido – pagava uma comissão, muitas vezes também poderia pagar uma comissão sobre os próprios ordenados. E é fácil perceber que essa é uma das causas que faz com que vários clubes estejam na situação financeira em que estão. Nós todos, para podermos fazer uma boa figura a nível europeu, tivemos necessidade de chegar a salários elevados para atrair bons jogadores. Se somando a isso, ainda tivermos de pagar todas estas comissões… os clubes estão todos num estado lastimável. Isto é evidente para todos e essa é uma das causas. Vê-se nestes valores de comissões como, apesar de o Sporting ter a nível financeiro definhado, a uma série de entidades aconteceu exactamente o oposto.

  • Os clubes rivais do Sporting continuam a ter sucesso desportivo e receitas compatíveis com o investimento que fazem no futebol.

Para lhe responder a isso, tínhamos de estar de acordo sobre o que quer dizer “receitas compatíveis com a sua performance desportiva”. Eu pergunto o seguinte: li que um clube em 10 anos fez 500 milhões em vendas…

  • O Futebol Clube do Porto.

… então esse clube não devia ter passivo nenhum. Devia estar numa situação financeira muitíssimo confortável… e não é a realidade de nenhum dos três grandes. Há realmente clubes que conseguem uma receita muito grande. Se são clubes que historicamente até avançam na Liga dos Campeões; se são clubes que, por época podem fazer 60, 70,100 milhões de vendas; e esse clubes estão em situações de passivo similares à que nós estávamos, então se calhar se nós pegarmos nessas vendas e virmos o que fica nos clubes, veremos que este ano o Sporting fez a nível de receita real para o clube um valor superior…

  • Para onde vai o dinheiro?

É essa a situação. Qual é a percentagem dos jogadores, qual é o nível de comissões pagas, de quem é, de facto, o benefício do jogador Se calhar posso fazer uma venda de 500 milhões e ficar com uma receita para o clube de 10 milhões. Ou fazer uma venda de 20 milhões e ficar para o clube 15 milhões. Parece-me que há clubes que têm passivos grandes para aquilo que são as suas receitas. Se calhar é preciso regulamentar tudo isto, dar transparência para as pessoas tentarem perceber quem é quem, qual é o jogador, que acordos há com os fundos, com os agentes, e quem é que usufrui dos milhões todos de vendas e compras que se vão fazendo. Se o Sporting gastou 45 milhões em jogadores e pagou 15 milhões em comissões, isso é mais de 30%. Quando o normal de uma comissão seria 10%.

  • Isso quer dizer que o Sporting estava refém dos agentes e dos fundos?

Quando nós não estamos fortes, não somos respeitados, quando nós próprios somos um conjunto de debilidades e fragilidades, é muito mais fácil sermos reféns de pessoas que podem trazer soluções “milagrosas” para o clube. E o que veio a verificar-se é que o Sporting continuou debilitado, frágil e as situações “milagrosas” foram acontecendo, não para o clube mas se calhar para algumas dessas pessoas. Em sentido figurado, podemos dizer que o Sporting estaria refém da sua própria debilidade, fragilidade e falta de visão de futuro.

“O perfil de gestor do Sporting estava errado”
Para Bruno de Carvalho, a gestão do Sporting no passado, em que a banca tinha voz activa, teve um problema de perfil: “Já está mais do que evidente que o perfil do gestor apontado para o Sporting estava perfeitamente errado, porque o perfil do gestor que tem de estar apontado é o de alguém que conheça o Sporting como clube, como entidade, como adepto, como sócio, como accionista, que viva o Sporting, que saiba identificar a realidade dos seus adeptos”. Sobre o que mudou consigo à frente do clube, Bruno de Carvalho é claro: “Não vou ser hipócrita. Além de termos deixado claro o que queríamos para o futebol, é lógico que a capacidade de liderança é evidente e tem ajudado”.

“Queriam um elefante grande mas levaram dois pequeninos”
O Futebol Clube do Porto contratou, há dias, dois jogadores de 15 anos do Sporting, representados por Catió Balde, o mesmo agente de Bruma, que protagonizou a “novela” mais mediática do Verão futebolístico. Questionado sobre se estas duas transferências são um episódio da “guerra” com o Porto ou da “guerra” com Balde, Bruno Carvalho recorreu a uma história da sua infância: ”Não sei se é um episódio da ‘guerra’ com o Porto ou não. Quando eu era miúdo, tinha dez anos, a minha mãe tinha um elefante de jade verde grande em cima do móvel. Via-o sempre que entrava na sala. Aquilo realmente destacava-se. Há um dia em que chamo a minha mãe. ‘Estás a ver ali o elefante? Não era um elefante, era elefanta, estava grávida, teve filhos e morreu de parto’. A minha mãe não percebeu o que eu lhe disse, mas olhou para cima do móvel e de facto, em vez de estar lá um elefante grande, estavam dois elefantes verdes pequeninos. Chamou a empregada E a empregada chegou lá e disse: Ai, dona Ana tem toda a razão, parti o elefante, peço imensa desculpa fui tentar comprar na loja e só havia pequeninos, trouxe-lhe dois’. Isto significa ou isto é um episódio de nada ou em vez de me virem buscar um elefante grande só conseguiram levar dois pequeninos. Mas com uma coisa: é oferecido pelo Sporting”.
Bruno de Carvalho acrescentou: “Não posso, ao fim de renovar com 19 jogadores, ter dois miúdos que destroem todo o trabalho que fizemos. No momento em que me disseram que ou eu cedia às condições, ou eles iam para o Porto, ofereci-me também para se fosse necessário, eu levá-los no meu carro e deixá-los ao pé do estádio. Isso não teve a ver com hostilidade nenhuma não vieram cá buscar jogadores nenhuns, porque eu me ofereci, se fosse preciso, para os ir levar”.

“Futebol português está mal porque falta coragem”
Arbitragem, agentes e fundos e negociação colectiva de direitos de TV

  • Seis meses depois,o futebol português está melhor ou pior do que pensava?

Não é uma questão de estar melhor ou pior, é uma questão de estar mal. O futebol português está mal porque falta coragem para haver algumas regulamentações. E enquanto isso não acontecer não vai ser fácil para o futebol português dar um pulo. Também está mal haver uma visão muito sectarista e muito pouco colectiva

  • Regulamentação de que género?

Pegar a sério na questão do profissionalismo na arbitragem. E determinante, porque somos todos profissionais e há um elemento importantíssimo, que faz parte integrante do jogo, que ainda não tem esse estatuto e que tem de ter. Depois, com regulamentação adequada, a utilização de meios tecnológicos para ajudar ao próprio jogo. Outra coisa fundamental é aqueles que vão gravitando em todo este mercado, os agentes e os fundos, terem uma regulamentação séria, forte, sem medo, porque não podemos andar sempre a assistir aos clubes em descalabro financeiro e tudo aquilo que anda à sua volta, financeiramente mais saudável.

  • Já sentiu abertura dos outros dois grandes para atenuar esse sectarismo?

Não me parece, já o disse, que haja nenhuma vontade pelo menos expressa que se altere estas situações. Porque talvez esta situação tenha feito definhar o futebol nacional, mas tem sido benéfica para alguns agentes, para alguns fundos e para alguns clubes.

  • Qual é o papel do Sporting no futebol português?

O Sporting era um clube muito pouco respeitado, pouco temido, pouco ouvido, pouco interventivo, focava-se muito nas suas questões internas e preocupava-se pouco em ter uma voz activa no futebol. E, neste momento, as coisas alteraram-se, nota-se que as pessoas se preocupam em saber qual a opinião do Sporting sobre os assuntos. Foi a primeira vez, há muitos anos, que o Sporting tem uma intervenção sobre uma arbitragem que resultou em algo prático, o árbitro teve uma classificação diminuída o observador foi afastado. Não fizemos nenhuma guerra com a arbitragem, fomos específicos num assunto.

  • A solução podia passar por uma negociação colectiva desses direitos de televisão?

Neste preciso momento há muitos clubes que sobrevivem das receitas que têm com os actuais contratos de televisão. Como presidente do Sporting, o que eu acho é que ao invés de andarmos todos de costas voltadas, isso é um assunto que devia ser levado a uma linha de entendimento comum. Neste momento há uma discussão entre algo que é concreto e algo que é filosófico. Tenho de perceber que os clubes se retraiam e vão para o concreto.

  • Nomeadamente o Sporting,que tem 37 milhões de direitos televisivos já gastos.

Sim. E uma daquelas temáticas que devem ser sempre vistas em conjunto e com acordos entre as partes. E impossível criar-se rupturas entre o concreto e o filosófico.

  • Mas no filosófico, acha que pode ser mais rentável para o futebol?

A primeira coisa que devia acontecer era a própria Liga entender- se com um operador e verificar aquilo que é o ideal para os próprios clubes.

  • Como têm sido as suas relações com a Olivedesportos?

Absolutamente normais.

“Auditoria vai ver se fomos o clube mais azarado do mundo”
Gestor da KPMG, ex-auditor da SAD, foi escolha da direcção e é “controller”

  • Suspeita de corrupção no Sporting no passado?

Não vou entrar por aí. O Sporting precisa rapidamente, e nós queremos dar essa informação na próxima assembleia geral, de definir os prazos da auditoria de gestão. E não estou a fugir à pergunta, quero é trazer alguma tranquilidade ao clube, que também é preciso. Aquilo que eu como sportinguista digo é: se não houve negligência e gestão danosa, foi um azar muito grande do Sporting. Vamos ter de ver com a auditoria de gestão se fomos o clube mais azarado do mundo ou se houve realmente negligência ou gestão danosa. Porque, para termos chegado onde chegámos, aconteceu alguma coisa Não foi a instituição em si que definhou, foram as pessoas que cá estiveram que foram dando os “inputs” à própria instituição.

  • Há notícias de que a banca não quer “sangue”. A auditoria é para levar até ao fim, doa a quem doer?

Ninguém tem dúvida nenhuma que a auditoria vai ser feita vai ser bem feita e o facto de eu pedir calma não tem nada que ver com os resultados que podem advir da auditoria. Isso há-de advir de uma entidade independente e externa. Se houver evidência de gestão danosa e negligência, o Sporting vai actuar judicialmente sobre isso. Não há nenhuma alteração. O que dizemos é que não vale a pena as pessoas viverem num sobressalto sobre algo a que finalmente hão-de ter acesso.

  • Mas os bancos mostraram-se confortáveis com a auditoria?

Os bancos estão perfeitamente confortáveis com o trabalho que estamos a fazer e com os objectivos que temos definido, inclusivamente quanto à auditoria de gestão. E algo de que não abdicamos, é algo que vamos realizar e estamos todos perfeitamente em sintonia: vai acontecer, com as consequências que tiver.

  • Pode ter consequências também na sua administração, uma vez que tem um membro da KPMG, que era auditor do Sporting nos últimos exercícios?

É engraçada essa pergunta porque está a tentar criar-se algum género de confusão. Primeiro, aquilo que o Sporting poderá fazer é agir contra dirigentes, colaboradores, funcionários, não poderá agir contra entidades externas. A questão do Guilherme Pinheiro eu já expliquei várias vezes:foi vontade da direcção e da administração da SAD podermos contar com mais um elemento que pudesse ajudar-nos como “controller”, isso para nós era importante. Nós temos de definir políticas e estratégias e sermos actuantes, e é necessário no dia-a-dia haver um controlo muito rigoroso do que se está afazer. Estamos a falar de um clube com muitas modalidades, com um conjunto tremendo de departamentos e secções. E o Guilherme Pinheiro, que o Dr. Carlos Vieira [administrador financeiro] já conhecia há muitos anos, foram inclusivamente colegas de curso, é alguém que tinha um conhecimento do próprio Sporting exactamente pelo período que passou na KPMG.

  • Essa escolha foi interpretada como uma contrapartida da reestruturação financeira…

Vou repetir o que disse na assembleia geral, com dois milhares de pessoas e o próprio Guilherme Pinheiro presentes: no dia em que eu achar que o Dr. Guilherme Pinheiro não é uma mais-valia para o Sporting, esse é o dia em que ele sai. Não há nenhuma contrapartida nenhuma imposição. Assim como no dia em que eu achar que não sou uma mais-valia para o Sporting, saio também.

“Há muitos anos que a banca não estava tão contente de ser parceira do Sporting”
O papel da banca na crise do Sporting foi várias vezes criticado pelo candidato Bruno de Carvalho. Como presidente, mudou a posição?
“Não vou mudar o discurso que tive: as entidades parceiras, credoras, também tiveram culpa daquilo que foi acontecendo, porque só se chega a este estado de calamidade quando ambas as partes querem. Quando somos uma entidade financeira e vemos que a outra parte o que faz é não cumprir, não cumprir, não cumprir, toma-se medidas para que a coisa pare”.
E agora que é presidente, mudou a relação com os bancos? Bruno de Carvalho não nega tensões durante as negociações, que foram ultrapassadas quando toda a gente percebeu que, agora, quem mandava no Sporting era ele. “É claro, aceite e de bom grado que o Sporting tem um líder e que é esse líder que decide tudo dentro do Sporting, que não se submete a absolutamente nada e que é exactamente essa a sua maneira de estar que tem dado sucesso. Por isso, estamos bem. Os bancos são parceiros e estão satisfeitíssimos com os resultados, e eu giro um Sporting com uma equipa de que gosto muito, que tem dado todo o apoio, estamos todos satisfeitos”. E completa: “O banco faz coisas relativamente à banca e eu faço coisas relativamente ao Sporting. Acredito que há muitos anos que a banca não estava tão contente de ser parceira do Sporting”.
Sobre um dos rostos do sistema financeiro com fortes ligações ao Sporting, José Maria Ricciardi, Bruno de Carvalho recusou responder directamente, apesar do confronto público durante a campanha eleitoral e de notícias de gritaria entre os dois nas negociações: “As minhas relações com todas as pessoas relacionadas com o BES, com o BESI, com o Millennium, são as melhores possíveis, tenho de o dizer”. Já se cruzou com o banqueiro entretanto, nomeadamente nos jogos? “Eu não me consigo cruzar com ninguém nos jogos porque estou no banco, mas é só por causa disso”, responde sorrindo.
Sobre a reestruturação de custos que implementou Bruno de Carvalho revelou que “a reestruturação só a nível de pessoal deu uma redução de cerca de 3,5 milhões de euros. Estamos a falar, no global, de cerca de 60 pessoas (50 da SAD e 10 do clube)”. Já nos contratos de fornecimentos e serviços externos “há uma poupança de cerca de 4,5 milhões. Houve uma renegociação com talvez 15 entidades”. Vão despedir mais pessoas? “Vai ter que ver com a sua valia, como em qualquer empresa. Acredito que vá haver ainda alterações” na estrutura de pessoal da SAD e clube, disse.

“Queremos negociar nome do estádio”
Acerca de uma eventual mudança do nome do estádio com o apoio de uma empresa, o presidente do Sporting sublinha que “quando acharmos que há uma proposta que consideremos importante para o Sporting temos de levar à assembleia geral. Não é desconhecido que é uma das coisas que nós queremos negociar”. No que diz respeito a patrocínios, Bruno de Carvalho admite “fazer renegociações para tentar mais verbas”. Mas acrescenta ser mais provável “numa época de recessão estarmos a fazer renegociações para os patrocinadores não se irem embora”.

Modalidades do clube “não são rentáveis”
As modalidades do clube são rentáveis? “Não são. Não há apoios, as transmissões televisivas em termos de encaixe financeiro são diminutas. Com isso, os apoios descem muito. Não são de facto rentáveis. O desporto nacional tem esse problema grave”, Nesse contexto, explica que “na reestruturação que fizemos uma das coisas que ficaram evidentes é que 100% da quotização tinha de ficar para o Sporting Clube de Portugal. O que significa que tivemos de fazer reequilíbrios nas modalidades e está nas mãos da família sportinguista o investimento que poderemos fazer no futuro”.
Está na mão dos sportinguistas manterem o eclectismo, porque 100% das suas quotas vão para o clube e 95% dos custos do clube são as modalidades.
“O presidente, se assinar os papéis, o dinheiro entra!”
0 presidente do Sporting explica, na íntegra, as diferenças entre a sua gestão e aquela que diz ter sido a das equipas dirigentes anteriores:
Uma reestruturação não é um mero quadro Excel: “Tenho este custo, tenho de passar para este custo, tenho 100, tenho de passar para 50, aqui tenho 20, tenho de passar para 10… aqui tenho 80, que são as receitas, tenho de passar para 100. E o Sporting foi isso que fez durante anos e anos e estava pronto para fazer outra vez. Como é que se equilibra? Receitas, quanto é que é preciso? 90 milhões. Escreve aí 90 milhões. Custos, quanto é que é preciso? 60 milhões. Então faz descer para 60 milhões”.
E quando chegámos aqui o que tínhamos era um conjunto de três ou quatro folhinhas, que era isso que tinham lá. Mas quem é quem, porque é que tinha de sair, o que se tinha de cortar, porque é que se tinha de cortar, onde é que se tinha de cortar, como é que consegue cortar sem tirar os resultados das modalidades, do futebol, como é que se mudava a mentalidade ao mesmo tempo. Quando dizemos que não pudemos aproveitar absolutamente nada da reestruturação que estava pensada, é que não pudemos de facto. Porque de repente vimo-nos obrigados, com gosto, a ficar aqui 24 horas por dia a perceber o relvado, as instalações, as pessoas, o departamento comercial, o departamento financeiro, o futebol de formação, o pólo EUL, o recrutamento, o “scouting”, qual era a diferença entre o recrutamento e o “scouting”, a parte psicológica. Uma das primeiras actuações que tive nas reuniões de reestruturação foi dizer “não, isto não. Das duas uma, ou começamos um papel feito por nós, ou então não há negociação”. E quando nós produzimos o papel em definitivo, que depois acordámos, foi um trabalho magnífico em muito pouco tempo. Não eram “Exceis”, era “tem de se fazer isto, mas está aqui: são estas as pessoas que saem, são estas as mudanças que se vão fazer, são estas as negociações que se vão fazer, são estes os novos organogramas, são estas as novas metodologias”. Transformou-se três papéis de Excel, num conjunto de medidas possíveis de realizar porque estavam pensadas ao milímetro. “Nós atingimos este valor, porque vamos fazer isto, isto, isto e isto. Nós vamos reduzir estes custos, porque vamos fazer isto, retirar isto, fazer esta fusão de departamentos”. E isto foi conseguido em poucas semanas quando ninguém acreditava que era possível. Mas eu dizia aqui dentro: “Não é possível fechar uma renegociação em que eu não acredite ao milímetro. Eu não vou assinar absolutamente nada que não acredite que vou fazer. Isso foi das grandes mudanças que se fez e é por isso que a reestruturação está a correr bem. Porque pela primeira vez não impuseram uns papéis que estavam a ser elaborados, mas foi o próprio Sporting que liderou um processo que envolveu também, como é lógico, as entidades credoras, e a empresa que estava na altura a fazer as auditorias e a consultadoria. Mas num raciocínio completamente novo: é que o Sporting é que definia as regras, as prioridades e os valores.”

“OS PAPEIS”
“Eu tinha pessoas que me diziam: ‘Mas ó presidente, se assinar esses papéis, o dinheiro entra!’ Eu dizia: Ok, obrigado, agora pode sair que eu vou ler os papéis. ‘Você não percebeu: se você assinar esses papéis o dinheiro entra’. Muito obrigado, pode sair, que eu vou ler os papéis. ‘Ó presidente, mas nunca ninguém lê os papéis, você vai ler os papéis? Eu estou a dizer-Ihe que entra o dinheiro’. [E eu:] Saia porta fora, que eu quero ler os papéis.”

“Eu sou o pior terrorista contra o presidente do clube”
Reconhecendo que não tem nenhuma estratégia de gestão da sua própria imagem, o presidente do Sporting diz que não está surpreendido com o grau de popularidade que já atingiu entre sócios e adeptos. E que isso tem um efeito: “Se eu já estava disponível mentalmente e a nível de coração a dar 24 horas ao clube, cada vez que eu saio e vejo o carinho que as pessoas têm quando chego aos estádios e aospavilhões, então o problema passa a ser que eu quero cada vez fazer mais, mais, mais. E não é para que as pessoas gostem. É pela contrapartida do carinho que têm dado”.
E quando as coisas se inverterem? “A nossa estratégia é trabalhar. Não me parece que as pessoas vão fazer nenhuma inversão. Se o fizerem é porque a nossa valia deixou de ser um facto. Antes de ser presidente do Sporting, sou sportinguista. E como sportinguista, no dia em que eu achar que o presidente do Sporting está a fazer um trabalho que não é o melhor… eu próprio saio. Tenho o pior adepto possível a viver comigo e não me consigo afastar dele: sou eu próprio. Se um dia isso acontecer… Eu sou o pior terrorista contra o presidente do Sporting”.

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